quinta-feira, 12 de junho de 2014

< ... chansons de Céline...>

... anteriormente traduzidas...


A NŒUD COULANT
I
Vive Katinka la putain
Celle qui n’aime que le matin
A l’aube grise !
Crève le grain
Ni mon cœur fidèle ni les roses
Refrain
Youp ! Profondis !
Yop ! Te Deum !
A la grande vague le petit homme !
Chacun goéland dans sa mâture !
A nœud coulant !
Brave figure !
II
Quand Katinka sera bossue
Nous irons voir aux citadelles
A force de prêter son cul
La cloche trois fois gros comme elle
III
Celle qu’on branle chaque matin
Pour fair’ lever tous les putains
Grosse bataille petit butin
Depuis l’Irlande aux Dardanelles !
Dernier Refrain
Youp ! Profondis !
Yop ! Te Deum !
A la grande vague petit homme !
Chacun goéland dans sa mâture !
A nœud coulant !
Pâle figure !
——–
RÈGLEMENT
I
Je te trouverai charogne !
Un vilain soir !
Je te ferai dans les mires !
Deux grands trous noirs !
Ton âme de vache dans la trans’pe
Prendra du champ !
Tu verras voir comment que l’on danse !
Au grand cimetière des Bons Enfants !
Refrain
Mais voici tante Hortense [1]
Et son petit Léo !
Voici Clémentine
Et le vaillant Toto !
Faut-il dire à ces potes
Que la fête est finie ?
Au diable ta sorte ?
Carre ! Dauffe ! M’importe,
O malfrat ! tes crosses
Que le vent t’emporte !
Feuilles mortes et soucis !
II
Depuis des mayes que tu râles
Que t’es cocu !
Que je suis ton voyou responsable
Que t’en peux plus !
Va pas louper l’occase unique
De respirer !
Viens voir avec moi si ça te pique
Aux grandes osselettes de Saint-Mandé, (bis)
III
C’est pas des nouvelles que t’en croques
Que t’es pourri !
Que les bonnes manies te suffoquent
Par ta Mélie !
C’est comme ça qu’est tombé Mimile
Dans le grand panier !
Tu vas voir ce joli coup de fil
Que j’vais t’ourdir dans l’araignée !
IV
Mais la question qui me tracasse
En te regardant !
Est-ce que tu seras plus dégueulasse
Mort que vivant !
Si tu vas repousser la vermine
Plus d’enterrement !
Si tu restes en rade sur la quille
J’aurai des crosses avec Mimile
Au trou cimetière des Bons Enfants !

O Soldado de cavalaria provisto de armaduras [trecho de "Conversações com o Professor Y.]

28 de setembro de 1912, Louis-Ferdinand Destouches se alista por três anos no 12º Batalhão de Encouraçados, nas investidas de Rambouillet, onde é incorporado no dia 3 de outubro (cf. núm. 13 deste diário). Por ter levado a cabo uma missão de reconhecimento arriscada no setor de Ypres (Flandres Ocidental), no curso da qual foi ferido com gravidade no braço direito e sofreu ferimentos na cabeça que lhe deixaram um tinnitus recorrente, foi condecorado com a Medalha militar, e posteriormente com a Cruz de guerra. Foi declarado inválido de guerra e enviado para Londres.
Podemos encerrar de novembro a dezembro de 1913 (cf. 3 y 47) a redação deste diário íntimo.
   
Não saberei dizer o que me incita a escrever o que penso.
Para quem lerei estas páginas.
A noite triste de novembro me leva treze meses atrás, antes de minha chegada a Rambouillet, quando estava muito longe de pensar o que me aguardava nesta encantadora estância. Mudei muito em um ano, creio... Porque a vida de quartel ao invés de fundir-me em... (?) (raiva... tristeza... angústia) um estado que não saía ao golpe do espírito abarrotado de resoluções, lástimas, nunca realizáveis, enquanto ainda inteiramente imerso à vida triste que levamos, me sinto abrigado de uma melancolia na qual me desenvolvo como o pássaro no ar ou o peixe na água. 
Tampouco e em nenhuma matéria tenho dado provas de erudição.
Estas notas, como pode-se ver, têm uma palidez diáfana, são puramente pessoais e tem como objetivo marcar em minha vida uma época (talvez plena), a primeira verdadeiramente penosa que atravesso, mas talvez não a última. É ao azar dos dias que carrego estas páginas de escrita. Estarão expressas e cheias de um estado de espirito diferente segundo os dias ou as horas, já que desde minha incorporação sofri bruscas mudanças físicas e morais.  

 3 de outubro - chegada. Corpo de guarda repleto de suboficiais de aspecto amassado. Cabos disparatados. Incorporação de um pelotão no 4º Lt. Le Moyne, bom moço; Coujon (?), mal, falso como um judas.
O Barão de Lagrange (oficial sincero e bom, mas atacado moralmente por certo nervosismo e sujeito a ataques cuja procedência, creio, devem ser consequência do excessivo libido de sua juventude).
Rodeado deste estranho estado maior, dou meus primeiros passos na vida militar. Sem esquecer Servat, um cabo sujo e estilhaçado... falso e bruto, unindo à patacoada e desembaraço meridionais.
Astúcia e um vil egoísmo. Nada mais é delicado, e quantas vezes confundi meus desgostos particulares com os dele ou com aqueles que criei para evitá-los.
Desde as dívidas até os roubos que eu tratava de ignorar, e, acrescentado a isso, uma profunda nostalgia da liberdade... em estado pouco propício a facilitar a instrução militar. 
Horríveis despertares (angustiosos) (que) ao som tão dissimuladamente alegre da trompeta do Guarda apresentam ao espirito os rancores e o horrores de sua jornada. As inspeções aos estábulos na névoa matutina. A (corrida) sarabandeada de ecos pela escada, o serviço de quadra na penumbra. Que nobre ofício, o das armas... enfim.
 ¿Os verdadeiros sacrifícios consistem talvez na manipulação do esterco à luz amarelada de uma lanterna gordurosa?
Aos cursos dos alunos brigadieres  que caíam gordos a um jovem Oficial fogoso em conflito com os sarcasmos de seu suboficial embrutecido com medo inato do cavalo... velhos ossos e seriamente comecei a pensar na deserção, única escapatória à esse cavaleiro. Quantas vezes regressei das curas e só em minha cama, coberto por imensa desesperação, chorei ao pesar de meus dezessete anos, como uma menina de primeira comunhão. Então soube que estava vazio, que minha energia era uma foça e que ao fundo de mim mesmo nada havia que não pudesse ser um homem; durante muito tempo acreditei nisto; talvez muitos como eu, antes do tempo; talvez muitos acreditam ainda mesmo que estejam velhos, e nas mesmas circunstâncias sentiriam também seus corações partir à deriva como uma garrafa no mar, esganzarado por ondas: as injúrias e a incerteza de que aquilo nunca irá terminar; então sim, verdadeiramente sofri tanto de meu mal presente como de minha inferioridade viril e do feito de comprová-la. Me dei conta de que os grandes discursos que lançava um mês antes sobre a energia juvenil em que alardeava valentia sem ao menos tê-la e que a hora da verdade não era mais que um infeliz derraigado que havia perdido a metade de suas capacidades e que não utilizava as  as que ainda restam a demonstrar o nada dessa energia
É então o fundo dum abismo quando posso dedicar-me a certos estudos sobre mim e minha alma, que não posso torná-la crua creio a fundo quando está em luta consigo mesmo.  Nas catástrofes são vistos os homens do grande mundo atropelar mulheres e a envilecer-se como o último dos vagabundos. Assim de golpe vi minha alma despojar-se da ilusão, do estoicismo com que minha convicção a havia encoberto para não contradizê-la mais (que seu pobre em luta com a triste realidade pela qual eu [...]).  
O que há de triste no mundo após um tarde de dezembro, um domingo, em um quartel? E, mesmo por estas vias, esta tristeza que me funda em profunda melancolia me custa largar... e parece que minha alma está rebrandecida e que somente em tais circunstâncias me vejo como realmente sou.

 Um fundo de tristeza vem do fundo de mim mesmo, e se não tenho o valor de afugentá-lo com uma ocupação qualquer, adquire em seguida grandes proporções, até o ponto que essa profunda melancolia chega a cobrir todas minhas penas e se junta com elas para torturar-me em meu interior.
Sou complexo e sensitivo de sentimentos; a menor falta de tato ou de delicadeza me fere e me faz sofrer porque dentro de mim escondo um fundo de orgulho que me repugna; quero dominar por meio de um poder fático como a ascendência militar, senão que desejo mais tarde ou antes possível ser um homem completo; serei um dia, terei a fortuna necessária para gozar essa liberdade de ação que permite impor-se.
Devo obter por meus próprios meios uma situação econômica que me permita qualquer fantasia (lástima), estarei livre e só, pois creio ter o coração demasiado complicado para encontrar uma companheira a quem amar por muitos anos. Não sei. Mas o que quero antes de tudo é viver uma vida cheia de incidentes que espero... a providência quererá colocar em meu caminho e não acabar com apenas um polo de continuidade amorfo sobre uma terra e numa vida cujas voltas desconheciam, que os permita forjar-los uma educação moral; se atravesso as grandes crises que a vida me reserva, talvez serei menos infeliz que outro, já que desejo conhecer e saber; em uma palavra, sou orgulhoso; é um defeito? não creio... e me criará dissabores ou talvez o êxito.

domingo, 8 de junho de 2014

< ...Você desprezível-rato informante-covarde!... >

Para Droit de Vivre [1]


20 de fevereiro [1948]

Sr.:

Militante da resistência? De fato e ao contrário de você, desprezível rato informante covarde! 20 de Nov. de 1914 - declarado inválido, ex-soldado,  - 75% - voluntariamente alistado, não na polícia ratfink [2] mas nos Cuirassiers [3] contratado novamente na Marinha em '39! E apesar de tudo isso, carcereiros!

Outra coisa... onde você leu, merda, uma única linha da minha exigência do "assassinato em massa dos judeus"?? Repugnante! Pedi os Judeus, alguns Judeus, não pedi para empurrá-los num massacre, em uma catástrofe, para o matadouro! Isso é completamente diferente, EXATAMENTE O CONTRÁRIO, e você sabe disso. É você que empurra, que sempre empurrou os judeus, seus irmãos, no matadouro através de suas provocações, os criminosos estão entre vocês, os traidores estão entre vocês.

E você sabe disso muito bem - na sua histeria - em suas mentiras - em seu ciúme. 

L.F Céline 

[1] A revista Droit Vivre tinha publicado um artigo hostil intitulado "Celine:. O Incompreendido"

[2] (Informantes, espiões, caguetas), a casta mais baixa da polícia mais nojenta.

[3] Antigos soldados de cavalaria armados de couraça.

Tradução da tradução de Mitchell Abidor

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Carta para seus pais desde a trincheira

[Céline se alistou no exército em 1912 e em 1914, com a eclosão da guerra, - foi ferido na Flandres, no dia 27 de outubro de 1914]

[Recebido em 26 de outubro de 1914]

Queridos pais,

Já passaram alguns dias desde que tive alguma chance de escrever, uma vez que os alemães fizeram coisas  pesadas, realmente, contra nós e foi somente ao preço de combate árduo, às vezes a pé, às vezes a cavalo, de que fomos capazes, metro a metro, a ganhar terreno repleto de valas grandes e profundas onde os alemães se escondem e se conduzem a partir de canhões. Mas logo foram obrigados a recuar e ontem com muita dificuldade ganhamos vinte quilômetros.

Nesta enorme concentração de cavalarias, depois de 80 dias de campanha você vê as coisas mais estranhas, regimentos inteiros que tiveram que lutar nos pântanos de Lorreine estão vestidos em trajes civis, porque seu equipamento original teve que ser deixado para trás.

Ao todo, poucos grandes encargos, mas, em geral, uma guerra de emboscadas onde a metralhadora causa danos terríveis, também tremendas noites e ataques durante o dia, a fim de chegar a um flanco ou outro de um exército. Há regimentos que particularmente sofreram, como o 28º Dragões de Sedan, onde apenas um comandante e quatro oficiais permanecem. A 20 ª Chasseurs de Vendôme de nossa divisão - que teve de atacar as ruas de Lille - mal pode montar três pelotões de quatro esquadrões.

Há também divisões de Territoriais que chegaram neste rincão de operações onde você pode ver todos os tipos de exércitos, do belga ao Inglês, juntamente com o Exército indiano, que é composto por um corpo de 5.000 anões de um vilarejo no Himalaia, exército especialmente reservado para ataques noturnos e que só luta com facas... Não é preciso dizer que eles não fazem prisioneiros. Nós nunca os vemos, pois à noite eles dormem nas árvores e você pode passar por baixo desse regimento de pigmeus horríveis, sem percebê-los.

Acho que os alemães podem preparar a paz, o embaralho do entulho é iminente. Eu espero que sejamos exigentes e que depois de todo esse sangue derramado... vamos parar de brincar como cavalheiros: este é um papel que os alemães não entendem e aqueles que estão indo negociar antes deveriam ir ver o espetáculo que vimos no dia antes de ontem em Lafosse, onde uma família de catorze pessoas, civis indefesos, foram mortos com lanças, dos quais o mais velho tinha setenta e oito anos e o mais jovem, duas semanas ... Sem contar a mulher grávida cujo ventre foi cortado por uma soldado.

No entanto, desde que estivemos no norte aprendemos coisas surpreendentes sobre o início da campanha, o que mostra que temos muita sorte e que "Deutschland über alles" não é apenas mais uma frase vaga. De qualquer forma, o perigo tem sido evitado - e agora, em marcha!

[Na margem, sem ponto de inserção: me foi dito por fontes confiáveis ​​que a temporada em Ostende terminou prematuramente.

Recebi os artigos e as meias; infelizmente nossos sapatos possuem mais água do que as planícies da Holanda.]

Traduzido desde Mitchell Abidor

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Un nouveau voyage avec Céline : le manuscrit original de Voyage au bout de la nuit

Os "Santos Padres" editará o que será, sem dúvida, evento editorial do ano: a publicação do manuscrito original de Viagem ao fim da noite.



Un manuscrit qui a une histoire devenue presque mythique. Vendu par Céline en 1943 au marchand d'art parisien Etienne Bignon, il va disparaître pendant soixante ans. C'est seulement en 2001 que le célèbre libraire Pierre Berès fera ressortir, dans un voile de mystère, (le volume aurait été conservé par un collectionneur anglais) « l'ours» de Céline.

Acheté à l'écrivain 10 000 francs avec un petit tableau de Renoir, il atteindra le chiffre record de 12 millions de francs lors de la vente aux enchères du 15 mai 2001. C'est la Bibliothèque Nationale de France, en faisant jouer son droit de préemption, qui permettra au chef-d'oeuvre littéraire de revenir dans le giron national.

La version que propose l'éditeur est la première version manuscrite du roman de Céline, avant les dernières corrections apportées sur une version dactylographiée. Cette reproduction du manuscrit restauré est donc bien différente de la version publiée chez Denoël en 1932 : des mots ont été changés, des phrases modifiées, des chapitres entiers remodelés, le syle a évolué, Céline «abandonnant les conjonctions, privilégiant les juxtapositions », analyse Henri Godard. « Il a injecté les tics de l'oralité dans l'écrit » pour passer « en quelques mois du bon écrivain à l'écrivain de génie ». C'est en quelque sorte un nouveau voyage à accomplir à travers ces quelques mille pages fidèlement reproduites...

Jessica Nelson, des éditions des Saints-Pères, tient à préciser que le volume « n'est pas un fac-similé » mais que chaque feuillet a été numérisé puis restauré «comme un tableau, afin que le lecteur ait l'impression, en ouvrant le livre, que Céline vient tout juste d'écrire ces pages ». Si ce travail s'est révélé très couteux pour l'éditeur, le résultat pour le lecteur est fascinant : vous y découvrirez l'écriture (lisible) de Céline à l'encre noire sur le fond blanc de feuilles vierges ou parfois à en-tête de sanatorium ou d'association d'assistance aux « tout petits », l'évolution de cette écriture plus ou moins relâchée, ses ratures, ses reprises et corrections, ses numérotations aux crayons bleus ou rouges...

Le tirage annoncé est très restreint : 1 000 exemplaires numérotés d'une numérisation présentée dans un luxueux et imposant coffret (25x35cm), rapidement augmenté d'un second tirage lui aussi limité à 1 000 exemplaires imposé à l'éditeur par le succès rencontré avant même la sortie officielle du 2 juin. Un très bel objet bibliophilique qui sera très probablement vite épuisé et saura attirer collectionneurs et spéculateurs avertis... 

M.G.
Le Petit Célinien, 3 juin 2014 


VOYAGE AU BOUT DE LA NUIT
Manuscrit 
Editions des Saints Pères, 2014
1040 pages, 4 kg, format 25 cm x 35 cm x 7 cm
ISBN : 978-2-9542687-4-3
Prix : 249 € sur 

quinta-feira, 22 de maio de 2014

EL DESCRÉDITO, Viagens narrativas em torno de LOUIS FERDINAND CÉLINE

Vicente Muñoz Álvarez e Julio César Álvarez são os antólogos desta obra que tenta pôr no devido lugar um dos melhores escritores da primeira metade do século XX, Louis-Ferdinand Céline. Um lugar de artista destacado que será sempre negado por seu autodeclarado antissemitismo, do qual o autor ostentou antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial.
Vicente Muñoz Álvarez é poeta, ensaísta e narrador que se move com soltura tanto no relato curto quanto na novela.  Canciones de la gran deriva(Ed. Origami, 2012) y Animales perdidos (Ed. Baile del Sol, 2012) e do livro de relatos Marginales (Excodra Editorial, 2013).
Julio César Álvarez, além de psicólogo, é autor das novelas El tiempo nos va desnudando (Ed. Magnéticas, 2009), Madrugada (Ed. Eutelequia, 2012) e Luz fría(Ed. Origami, 2013). En colaboración con Hugo Alonso elaboró Mientras el mundo cae (Ed. Magnéticas, 2010), 
Relacão de autores: Miguel Sánchez Ortiz, Mario Crespo, Celia Novis, José Ángel Barrueco, Óscar Esquivias, Bruno Marcos, Pepe Pereza, Isabel García Mellado, Álex Portero, Vanity Dust, Juanjo Ramírez Mascaró, Patxi Irurzun, Juan Carlos Vicente, Velpister, Esteban Gutiérrez Gómez, Pablo Cerezal, Javier Esteban, José M. Alejandro, «Choche», Miguel Baquero, Carlos Salcedo Odklas, Joaquín Piqueras, Adriana Bañares Camacho, Gsús Bonilla, Alfonso Xen Rabanal, Daniel Ruiz García, Enrique Vila-Matas.

Site: http://eldescreditoviajes.blogspot.com.br/ (com diversas publicações acerca do livro, entreoutros)

Louis Ferdinand Destouches, conocido como Louis-Ferdinand Céline o, simplemente, Céline, asombró y escandalizó con su primera novela, Viaje al fin de la noche, por su falta de sujeción a cualquier norma. En esa novela de tintes autobiográficos su prosa rauda y violenta, su lenguaje absolutamente libre y brutal, grosero e irreverente, conviven con un fondo radicalmente antibelicista. Confirmó su categoría de escritor innovador y de calidad con Muerte a crédito, una obra que reinventa la novela, que crea una nueva estructura, un nuevo ritmo narrativo, y que con su aparente desorden muestra la visión que Céline tenía de la existencia, de la vida y de la muerte. Después vinieron otras obras que no han sido tan celebradas, hasta llegar a las tres que le acabarían hundiendo y que, décadas más tarde, siguen siendo una losa que pesa sobre su memoria: los tres panfletos antisemitas -usamos los términos con los que comúnmente se hace referencia a Bagatelles pour un massacreL'école des cadavres y Les beaux draps-. Ya en la primera de esas obras Céline firmaba su odio hacia los judíos y su admiración por Hitler. Y poco importa que en el conjunto de esos tres textos también dejase evidencia de su odio contra los rusos, los chinos, los comunistas, los masones y, ya puestos, contra la Humanidad entera. Que en vísperas de la Segunda Guerra Mundial se mostrase antisemita y que ya en pleno conflicto aceptase abiertamente las tesis del nazismo y la ocupación de Francia, ha tenido un efecto irremediable. Su obra ha quedado eclipsada, oculta bajo su figura odiosa y odiada.
El descrédito es una obra magna y compleja, casi un trabajo de excavación arqueológica. A lo largo de los textos recopilados para este volumen, casi una treintena de voces hacen su aportación y dan su particular y subjetiva visión de este literato que, pese a todo, está considerado como uno de los más grandes de la Francia del siglo XX. Los textos recogidos aquí no pueden ser más variados. Nos permitimos empezar por el final, por el texto que firma Vila-Matas y que cierra el volumen. Los calificativos que dedica a Céline van desde "cerdo repugnante" a ideólogo del Holocausto. Ello no le impide elogiar, en una rapidísima pero completa revisión de su obra, las dos primeras novelas, las únicas que en su opinión tienen gran valor literario. Aunque no deja de admitir los sentimientos encontrados que le produce Fantasía para otra ocasión, se pregunta si, como dijeron en su día otros literatos, Céline fue un hombre de un solo libro -o dos, para ser exactos-. En la misma línea de revisar algunas de sus obras van otros textos de esta antología, como Indigestión al fin de la noche, o La derrota de Bardamu que es quizá el texto que más se más se acerca a los panfletos, precisando las ideas y frases por las que Céline es más odiado.
Algunos de los textos intentan contextualizar la obra de Céline, buscar las razones de su odio universal contra la Humanidad. No para excusarle, ni siquiera para condescender con él, sino únicamente para entender de dónde surgen actitudes y palabras que hoy nos siguen pareciendo tan terribles. Así, varios de los textos hablan de su participación en la Primera Guerra Mundial, donde sufrió importantes daños físicos y donde se incubó su antibelicismo y su desprecio y desconfianza en el hombre. Así ocurre en Y la noche se derramó sobre Céline, que se construye sobre la participación de Céline en una guerra en la que no creía, y en su posterior viaje-huida en hacia África.
Pero la variedad es el elemento clave en El descrédito. Así encontramos verdaderos aunque breves ensayos, como No hay tregua para los malditos donde se hacen patentes las contradicciones de Céline, o textos que parten de una anécdota, como La entrega del testigo, centrada en una visita que los escritores William Burroughs y Allen Ginsberg hacen a Céline, y que sirve de excusa para hablar de intertextualidad y de las curiosas y, a veces, extrañas conexiones entre diferentes autores. Incluso nos encontramos con un texto que recrea las últimas horas de vida de Céline, Tres rosas podridas, que aprovecha ese momento final de la existencia del autor para rescatar pequeños retazos, frases clave de su obra, en una selección mínima pero impresionante por lo representativa que consigue ser.
Y también encontramos textos que, en su forma, son verdaderos relatos que podrían aparecer en antologías muy diferentes a la obra que nos ocupa, pero que tienen siempre una importante conexión con el autor maldito. Algunos consiguen maravillar al lector, como Charles Chaplin Céline, donde a través de una comparativa con el personaje de Charlot se dan pistas sobre la visión de Céline del mundo, un mundo en el que la masa -la Humanidad- atropella al individuo. O como El mejor de los mundos, un cuento magnífico donde la grandeza con que está creado el personaje protagonista, un médico cooperante en África, hace que se queden pequeñas las poco más de diez páginas que ocupa el relato. El espacio al que tenemos que ceñirnos hace imposible mencionarlos todos, pero cuentos como Al norte del dolor, un relato desnudo, árido y doloroso, en el que Céline se mezcla por casualidad o por destino con la trama, o De regreso a la noche, donde se da al autor la oportunidad de vivir una segunda vida, son solo dos ejemplos de una magnífica literatura.
El descrédito no huye de la polémica en torno a la figura de Céline. Más bien todo lo contrario. Ahí está el texto de Alfonso Xen Rabanal -quizá el más celiniano de todos los autores que han colaborado en esta compilación- escupiéndonos en plena cara todo lo que le provoca asco de esta Humanidad a la que, después de leer el texto, uno casi entiende que Céline llegase a odiar. O el de Joaquín Piqueras, en el que a través de una conversación con formato de chat escuchamos a varios personajes discutir sobre las posibles causas del antisemitismo de Céline. O el de Álex Portero, que da las claves más claras para entender las razones de que Céline esté en el ostracismo y de que, a pesar de ello, su obra siga fascinando a no pocos lectores.
El denominador común de todos estos textos es que en ningún caso se intenta crear una dualidad entre escritor y persona. No hay un Céline autor y un Destouches hombre; no hay un literato magnífico y una persona despreciable. No valen frases que intenten convencernos de que una cosa es la persona y otra su obra. La obra es la consecuencia del autor, forma parte de él. Será cuestión de cada lector decidir si Céline fue un ingenuo, un hombre terriblemente equivocado, un provocador, o un monstruo. Pero en cualquier caso deberá admitir que incluso un monstruo puede crear obras literarias de la máxima relevancia. Eso es lo que El descrédito ayuda a entender y a valorar.
El lector mínimamente curioso que no conozca la obra de Céline querrá, tras la lectura de El descrédito, lanzarse a conseguir y leer sus obras. Algunas de ellas pueden encontrarse con relativa facilidad. Existen ediciones de bolsillo deViaje al fin de la nocheMuerte a crédito o Fantasía para otra ocasión que se pueden obtener en librerías sin demasiados problemas. Algunas de ellas, incluso, están disponibles en formato electrónico. Otra cosa es encontrar los panfletos antisemitas. Sus traducciones al castellano son virtualmente inexistentes, y sus reediciones escasísimas desde la Segunda Guerra Mundial. Para el lector curioso -y versado en la lengua francesa-, la opción es conseguir alguno de los raros y caros ejemplares de segunda mano editados en francés. Por fortuna, leer El descrédito, es una magnífica manera de hacer un primer acercamiento a esas obras y también a la vida de este autor maldito.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Louis Ferdinand Céline por Jean-Pierre BOISTEL



"(...) Na pequena sala de jantar ao lado, percebíamos o pai a andar de um lado para o outro. Não devia ter a sua atitude pronta ainda para a circunstância. Talvez esperasse que os acontecimentos se precisassem antes de ter de escolher uma postura. Permanecia numa espécie de limbo. Os seres vão de uma comédia para a outra. Entretanto, a peça não está montada, eles não discernem ainda os contornos, o seu papel propício, então permanecem ali, de braços bamboleantes, diante do acontecimento, os instintos virados como um guarda-chuva, sacudidos de incoerência, reduzidos a si mesmos, quer dizer, a nada. Bois sem palácio."

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Carta d'Africa [2]

 
(Céline trabalhou em Camarões como representante de uma empresa francesa no entretempo de 1916-1917 . Esta descrição de sua vida foi enviada para sua amiga de infância Simone Saintu. As excentricidades de estilo estão no original.)

Bikobimbo - 28 de junho de 1916

Minha Querida Simone -

Estou tão longe, muito longe como se estivesse separado do mundo para sempre.

Na verdade, eu estou em uma pequena aldeia de Negros que em si mesmo fica no meio de uma plantação que é por si só 11 dias distante do primeiro e único europeu, que supervisona uma área tão grande como a França.

Sob estas condições você entenderá facilmente a dificuldade que eu teria em fornecer-lhe notícias desta sociedade, as fofocas dos civilizados não atingem meus ouvidos, já não o faço desde algum tempo.

Os nativos que me cercam são chamados Paoins e são notoriamente conhecidos como canibais.

O que me permite testemunhar pequenas cenas que podem ser razoavelmente chamadas de "fatias de vida."

Além disso, o campo está completamente devastado por epidemias periódicas; malária e doença do sono florescem aqui. Adicione a isso a traição dos habitantes e você verá que tenho alguma dificuldade em salvar a minha vida, que já está tão carinhosamente amputada.

Resulta que de manhã à noite eu ando por aí coberto de véus espessos anti-mosquito - Eu cozinho para mim mesmo por medo de ser envenenado - Eu me intoxico com quinino e uma tonelada de outras drogas, a fim de me proteger da febre; Eu nunca saio sem capacete e óculos fortemente foscos por medo de insolação - Também de dia à noite tenho ao meu alcance um revólver, a fim de resolver as diferenças com os meus clientes, em cujos olhos eu às vezes espio um lampejo maldito de cobiça.

Além destes fatos encantadores, tenho que viver exclusivamente sobre a terra, que é nigger, você teria um retrato invejável da minha existência...

E mesmo assim tenho alguns consolos - a absoluta ausência de comentários sobre a minha conduta -  e a grande, total, absoluta liberdade.

O comércio que estou envolvido é de uma simplicidade angelical que consiste na compra de presas de elefante em troca de tabaco - você não pode imaginar quanto o nigger prefere fumar um cigarro a ser pago em moeda (cujo valor ele não sabe) - foi um espetáculo raro para mim, todos meu clientes ficaram satisfeitos com a venda deles - em média - dois maços de Marylands por um dente de elefante. Esses detalhes técnicos, provavelmente não lhe interessam muito, mas são a única razão de eu permanecer neste país encantador, bombardeando-o com o tabaco até a morte do elefante final.

Envie-me notícias suas imediatamente; isso me reunirá com o mundo: é menos feio de longe e apenas o lembro desta forma.

Sinceramente seu,

Louis


sexta-feira, 28 de março de 2014

A violência do discurso e o discurso da violência

A violência do discurso e o discurso da violência: Céline versus Sartre

Adson Cristiano Bozzi

 

“Mas se Hitler me dissesse Ferdinand, é a grande partilha! Partilharemos tudo! Ele seria meu amigo! Os judeus prometeram partilhar, mas eles, como sempre, mentiram...”
Louis-Ferdinand Céline. Bagatelles pour un massacre, 1937.
“O teu amigo Hitler, Louis-Ferdinand,
Teria podido te dizer, tanto o caso é conhecido,
Que o sangue dominado e o sangue dominante
Têm a mesma cor no crematório.”
Pierre Perret. Ferdinand, 1998.
Quem, de alguma maneira, frequenta o mundo acadêmico sabe que este é povoado de paixões inúteis e de vaidades fúteis (e igualmente inúteis). Mas poucos, entre nós, se dão o trabalho de registrar por escrito os seus descontentamentos e ressentimentos. 

Mas este não parece ser o caso da França, cuja história das letras no século passado é pródiga em rompimentos midiáticos entre intelectuais, como ocorreu com um intelectual brilhante e politicamente atuante, Jean-Paul Sartre, com outros não menos conhecidos, como Merleau-Ponty e Camus, com quem o existencialista rompeu publicamente (1). Contudo, talvez o mais espetacular e mais dramático dos rompimentos tenha ocorrido entre Sartre e o igualmente romancista Louis Ferdinand Céline. 



Ao contrário dos dois casos citados acima, em que havia uma afinidade intelectual e ideológica, além de uma relação de amizade, Sartre e Céline não se frequentavam e não possuíam uma relação de proximidade ideológica. Nesse sentido, o rompimento se deu unicamente através das letras, mas, como já escrevemos, não foi por isso menos dramático e nem menos visceral.

Feitas estas breves considerações, elucidemos o contexto no qual este rompimento público ocorreu. Céline, romancista revolucionário, autor dos consagrados Mort à crédite Voyage au bout de lanuit, tinha uma convicção política que o tornava, por assim dizer, “infrequentável”, o antissemitismo. Depois da Segunda Guerra, ele foi preso e julgado (nessa ordem), devido a sua militância intelectual nesse espectro ideológico responsável pelo holocausto. E, ao menos aparentemente, ele jamais negou o seu antissemitismo, como podemos ler nessa entrevista, ocorrida no ano de 1960, concedida a Jacques Darribehaude:


J.D.: E o antissemitismo surgiu no senhor a partir dessa tomada de consciência?
L.-F.C.: Ah, bem, eu vi um outro explorador. A Sociedade das Nações, eu vi muito bem que era através dela que isto ocorria (2).


Ainda que neste trecho citado o seu antissemitismo não tenha sido declarado, não o é, todavia, negado, e esta posição política, por parte de Céline, era pública e foi manifestada em alguns dos seus textos (3). Em 1945, Sartre escreveu e publicou estas linhas sobre a posição do seu colega de letras: “Se Céline pôde sustentar as teses socialistas dos Nazistas, é porque ele era pago” (4).

 Três anos mais tarde, Céline teria tomado conhecimento deste texto e resolvido escrever e tornar público um panfleto intitulado A l’agité du bocal, no qual, com uma violência até então inédita, respondeu a Sartre e se defendeu da acusação de ter sido um escritor pago pelo regime alemão e, portanto, de ter sido um colaboracionista (no sentido descrito por Sartre) (5). Um bom exemplo deste texto – e da sua virulência – seria este: “Eis então o que escreveu este pequeno besouro Rola-Bosta [bousier no original] enquanto eu estava na prisão correndo o risco de ser enforcado” (6). E Céline continuou, página após página: “O que você está querendo? Que me assassinem! É evidente!” (7). E, ainda: “Esses olhos de embrionário? Esses ombros mesquinhos?... Essa pequena grande pança? Uma tênia, é claro, um homem tênia localizado onde bem se sabe... e filósofo!...” (8). E ainda mais: “Você é mau, sujo, ingrato, odioso, inteligente como um asno, e isso não é tudo, J.-B. Sartre” (9). Ora, estas são as vociferações de um homem que caiu em desgraça (com a vitória aliada sobre os alemães), que tinha sido abandonado por todos, que conhecia as mais diversas privações morais e financeiras, e que sequer podia caminhar livremente, como se pode ler na já citada entrevista: “Lugares onde ninguém nunca vai. Eu frequentei bastante Saint-Malo, mas não é mais possível... Lá eu sou mais ou menos conhecido” (10).


Estivemos no universo de um discurso de uma violência inaudita de um intelectual contra outro, a “violência do discurso”, que foi uma defesa de um homem caído emdesgraça contra o que ele julgou ser um “discurso da violência”, o qual supostamente contribuiria para a sua condenação à morte (11). Com esta sumária descrição, estamos muito longe do ambiente de discordância intelectual que levou o rompimento de Sartre com Camus e com Merleau-Ponty e entramos em um ambiente no qual as palavras são utilizadas no seu limite. E o discurso do conceito, no caso de Sartre, dá lugar à suposição leviana (que Céline era antissemita era um fato, mas que ele teria sido pago pelos nazistas é meramente uma suposição escrita e publicada enquanto ele poderia ser condenado à morte) e à vociferação, e ao impropério (no caso de Céline). Contudo, tudo isto deve ser compreendido dentro do seu contexto devido: a derrota e a humilhação da França, a descoberta do extermínio em massa dos judeus, a emergência da arma nuclear e as incertezas de um mundo ainda em construção.Estávamos em um mundo longe de ser racional e “neutro”, e, contrariando Hegel, afirmaríamos que ele era real.


Posto isto, resta ainda uma questão. Muito provavelmente Sartre não tinha a intenção de causar a morte de Céline, ficcionista que ele admirava profundamente (12), e as posições deste último eram, desnecessário escrever, condenáveis, mas,  até que ponto as posições políticas de um autor devem condenar a sua obra? Afirmei, no início deste breve artigo, que Céline foi o autor de dois celebrados romances, e a sua posição política, então, deveria condenar ao “exílio intelectual” a totalidade da sua obra? Esta incômoda pergunta merece ser colocada e discutida em um espaço democrático, até porque romancistas e filósofos de posições políticas dúbias ou, simplesmente, condenáveis, não faltam. Devemos conceder que, ao “pé da letra” parte da obra de Nietzsche não poderia ser lida e, a este título, deveria ser objeto de censura, e o mesmo vale para Heidegger se pensarmos na sua carreira acadêmica (13). Ora, o próprio Sartre poderia facilmente ser acusado de misoginia, se nos restringirmos ao seu comportamento em relação às mulheres e a esta pequena frase (raramente comentada) de um texto de 1945:
Em um andar de prédio, encontramos “em torno de uma mesa de chá” algumas destas grande mulheres de cabelos cinzas, inteligentes como homens, que, desde a guerra, representam a maioria destas associações (14).

Ora, a frase de Sartre somente poderia ser aceita se a lêssemos desta maneira: “inteligentes à maneira dos homens”; mas nem essa leitura a tornaria mais elegante. Contudo, não queremos comparar eventuais “derrapadas” a uma profunda – e nefasta – convicção política, apenas salientamos que o mundo das letras está pleno de conflitos e mal-entendidos, assim como de apreços e desapreços. A crucial diferença, neste caso, é que o rompimento se deu em uma época cujas incertezas eram numerosas; o mundo havia acabado de passar por uma enorme carnificina e havia conhecido o extermínio não apenas em massa, mas premeditado, frio e quase burocrático. Nesse sentido, tanto a “frase assassina” de Sartre quanto o panfleto violento de Céline podem ser compreendidos como o “acerto de contas” com uma época passada. Ora, não foi o romancista francês que abriu o seu panfleto antissemita com a provocadora epígrafe, retirada do Almanach des Bons-Enfants, segundo a qual “não vai para o paraíso aquele que falece sem ter acertado todas as suas contas”?




notas
1
A sua biógrafa mais famosa, Annie Cohen-Solal, definiu estes rompimentos nestes termos: “Camus, Nizan, Fanon, Merleau: em 1960 e 191 Sartre vai acertar as contas, para o bem e para o mal, com estes quatro amigos” (1999, p. 729). Especificamente sobre o rompimento com Camus, citemos Lévy: “Resposta de Sartre [a uma carta de Camus à revista Les temps modernes], que, mordido, toma ele mesmo a pena: ‘diga lá, Camus, por qual mistério não se podem discutir suas obras sem que isso afete as razões de vida da humanidade? por qual milagre as objeções que lhe são feitas se tornam, de imediato, sacrilégio? ah, meu Deus, Camus, como você é sério e, para usar uma das suas palavras, como é frívolo! e se você estiver enganado? e se o seu livro [L’homme revolté] simplesmente demonstrasse a sua incompetência filosófica? e se ele fosse feito de conhecimentos apressadamente colhidos, e de segunda mão?’ A imprensa da época, os jornais e periódicos escandalosos, Samedi-Soir tanto quanto Le Monde, apoderam-se do evento, incentivam-no e atiçam, é claro, a briga. A partir desse dia, está tudo acabado” (2000, p. 355).
2
CÉLINE, Luis Ferdinand. A l`agitédu bocal. Paris: Herne, 2011, p. 77.
3
O seu mais famoso panfleto antissemita é o Bagatellespourun massacre, publicado em 1937 e jamais reeditado após o fim da Segunda Guerra Mundial, no qual ele acusa os judeus de realizarem uma “conspiração de silêncio”. Esta questão, infelizmente, ainda é atual na França. O humorista francês Dieudonné M`balaM`bala esteve, recentemente, no centro de uma polêmica que terminou com a proibição dos seus espetáculos pelo governo francês, uma vez que eram julgados, ao menos parcialmente, como antissemitas. Dieudonné foi criador da polêmica saudação “antissistema” chamada de quenelle, na qual um braço aponta para o solo enquanto outro se posiciona no ombro, a qual tem sido identificada como uma espécie de saudação nazista. No mês de fevereiro deste ano este humorista foi proibido de entrar na Grã-Bretanha, onde ele faria uma manifestação de solidariedade ao jogador de futebol Nicolas Anelka, que provavelmente será suspenso por fazer a quenelle durante a comemoração de um gol em uma partida do campeonato inglês. Recentemente, causou comoção, na França e na Bélgica francófona, a descoberta de que Herman van Rompuy, político flamengo, havia publicado em seu site um poema de um padre nacionalista flamengo e antissemita, Cyriel Verschaeve, que havia sido admirador do Nazismo e colaborador desse regime durante o período em que Bélgica esteve sob ocupação alemã. Ora, van Rompuy não é apenas um político regional, ele é o atual Presidente do Conselho Europeu...
4
Segundo a introdução da edição de que nos servimos, esta frase foi escrita por Sartre em Portrait d`un Antisémite, publicado em Les Temps Modernes em Dezembro de 1945, e retomado mais tarde com o título Réflexions sur La question juive, pela prestigiosa editora Gallimard. Para maiores detalhes, ver referências.
5
Bernard-Henri Lévy comentou brevemente a história deste texto: “Lembramo-nos, sobretudo, da incrível violência da resposta de Céline, enviada a Paulhan, mas recusada, e publicada por Albert Paraz no final do seu livro Le gala desvaches, sob o título A l`agitédu bocal (...)” (2000, p. 103).
6
CÉLINE, Luis Ferdinand. Op. Cit.,  p. 09.
7
Id., p. 11.
8
Id., p. 12.
9
J.-B. Sartre: ironia de Céline, Jean-Paul Sartre metamorfoseia-se em Jean-Baptiste Sartre.
10
CÉLINE, Luis Ferdinand. Op. Cit.,  p. 86
11
Isto, ao nosso ver, seria exagerar a influência política de Sartre na França do pós-guerra, mas, de qualquer sorte, todos sabemos quem travava a “boa luta”, e não era, certamente, Céline…
12
Citamos Simone de Beauvoir: “A atenção que prestamos ao mundo era assaz rigorosamente pelos tropismos de que falei; éramos capazes, entretanto, de certo ecletismo, líamos tudo o que aparecia; o livro francês que se nos afigurou mais importante foi Voyage aubout de na nuit de Céline. Sabíamos de cor uma porção de trechos” (1984, p. 138).
13
E não apenas na sua carreira, mas em certa parte do seu pensamento, como podemos observar aqui: “Pois a língua grega, medida pela possibilidade do pensamento, é, ao lado da alemã, a mais poderosa e a mais cheia de espírito”(1999, p. 85). Desta frase alguns deduziram de que somente era possível filosofar em Grego e Alemão. Sobre a “zona de sombras” da carreira acadêmica de Heidegger remeto o leitor ao subcapítulo 5 da primeira parte do livro O século de Sartre de Bernard-Henri Lévy.
14
2003, p. 68. Grifo do autor.


referência bibliográfica

BEAUVOIR, Simone de. A força da idade. Trad.: Sérgio Millet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
CÉLINE, Luis Ferdinand. A l`agitédu bocal. Paris: Herne, 2011.
COHEN-SOLAL, Annie. Sartre 1905-1980. Paris: Gallimard, 1999.
HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Trad.: Emmanuel carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1999.
LÉVY-BERNARD-HENRI. O século de Sartre. Trad.: Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

sobre o autor

Adson Cristiano Bozzi Ramatis Lima é Coordenador do Topoi, grupo de pesquisa em imaginário urbano & ideias arquitetônicas. Endereço eletrônico: <http://topoi-grupodepesquisa.blogspot.com.br/2012/09/topoi-grupo-de-pesquisa.html>

 

terça-feira, 18 de março de 2014

Artigo: Voyage au bout de la nuit e a crise do realismo, por Daniel Garroux

Daniel Garroux* 


O romance Voyage au bout de la nuit, publicado em 1932, tem sido classificado pelos críticos como “picaresco”, “filosófico”, “de formação” etc. No que pese o valor dessas caracterizações, acredito que seja mais proveitoso partir da análise cerrada da obra para
depois tentar situar Voyage... em um contexto mais a mplo de questões. Para isso, tomo como ponto de partida as relações entre a posição do narrador e o estilo, ancorando as hipóteses interpretativas na objetividade do texto e adensando pouco a pouco o enigma que a esfinge celineana nos propõe.
Ao colocar seu leitor diante de um fluxo discursivo não-linear que emana de uma
consciência cindida por experiências traumáticas, a narrativa de Voyage...
subverte alguns dos pressupostos de que o gênero do romance havia se servido até então, como o tratamento ilusionista de tempo e espaço, o predomínio da função referencial da linguagem e a construção de personagens autônomas, dotadas de psicologia complexa. O romance realista do século XIX, em larga medida, apoiava-se sobre uma “consciência central”
(geralmente oculta sob a forma de um narrador em terceira pessoa) que organizava o
material empírico antes de transmiti-lo ao leitor. 
Em Voyage...a certeza dessa consciência central se encontra abalada, e o difícil processo de tentar recompor a experiência por meio da linguagem é exposto ao leitor.
Embora algo da mesma ordem tenha ocorrido na obra dos grandes romancistas do começo do século XX, como Joyce, Faulkner e Virginia Woolf, a narrativa de Voyage...
percorre via própria, e as eventuais semelhanças se originam menos de uma influência
direta daqueles autores sobre Céline do que do caráter comum das experiências históricas
sedimentadas nas obras, que, sob olhar panorâmico, condicionaram a crise do realismo e o
advento de um novo tipo de romance.
* *
*
*Mestrando do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da FFLCH-USP, bolsita do CNPq
Dissertação aqui:

http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-14012013-120819/pt-br.php.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Dicionário Céline, por Eric Laurrent

"O objetivo deste trabalho é o de restaurar todos os usos da linguagem de Céline a partir de seu léxico. Ele também pretende construir uma rede de referências da crítica celiniana quando se questiona a linguagem.

Este trabalho parte do princípio que não se pode compreender a obra de Céline apenas com os conceitos da leitura mais óbvia, a compreensão das palavras que formam uma sintaxe particular, a serviço de um estilo que geralmente controla a elipse e sua compreensão. Esta dimensão da leitura, óbvia para muitos, é menor para aqueles que falam uma língua diferente do francês. Esta é essencialmente a pretensão deste dicionário que inclui todos os neologismos e gírias muito pouco conhecidas.

Refiro-me, sempre que possível, à edição das Pléiades, que atualmente é composta por quatro volumes . Entende-se que o vocabulário popular e gírias de Catherine ROUAYRENC desses volumes, embora incompleta, é a referência principal. Qualquer reversão é indicada como tal. Outro item útil: o Dicionário não convencional francês publicado pela Larousse, cujo Rey Alain é um dos editores. O trabalho sistemático, em algum momento futuro, permitirá multiplicar as referências a estudos publicados (especialmente aqueles de A. Juilland , da Universidade de Stanford )."  Eric Laurrent

Link para o Dicionário de Neologismos -Célinehttp://duclos.tripod.com/Dictiona.htm

Site do Autor (escritor, tradutor): http://duclos.tripod.com/lisere.htm

<< ... a fantasmagoria triunfa!... >>

"O câncer vence! ... O número de vítimas cresce e cresce ... seis, sete em cada dez pessoas morrem! ... E não percebem o velho aviso! ... pleno de crianças, de comungantes ... que a natureza está provocando! Ela quer você para alguma coisa, ele faz cócegas em dois de três átomos, você é puzzle, e encontra muito mais! ... uma dupla força lhe empurra, um triplo da força! ... Um olhar sobre a parte inferior do estômago! todo a sua perpetuidade falha, quebra! ... natureza ... sua máscara interna ... dois porcos-espinhos nascem em sua pleura, resolvem mordiscar o diafragma ... a fantasmagoria triunfa! .. . uma metade de seu rosto está sangrando, à parte, incha ... seu sorriso congela em grânulos fedorentos... a natureza se satisfaz..."

Louis-Ferdinand Céline, Fable pour une autrefois, Gallimard, 1952.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Archival Readings, Interviews, Performances, Songs, Radio Broadcasts [MP3]

Archival Readings, Interviews, Performances, Songs, Radio Broadcasts [MP3]

http://www.ubu.com/sound/celine.html

Céline Vous Parle (Disque Festival, 1958) 10:55
L.-F. Céline Entretien A Meudon Avec Marc Hanrez (1959) 28:30
L.-F. Céline Entretien Avec L.-A. Zbinden Pour Radio Suisse-Romande (1957) 28:15
L.-F. Céline Entretien Avec Louis Pauwels (13:33)
Entretien Inédit (9:18)
Le Chaland Qui Passe (3:02)
Mort A Crédit: Le Certificat D'Etudes (7:58)
Mort A Crédit: Le Départ Pour L'Angleterre (16:08)
Mort A Crédit: Les Vacances En Famille (6:16)
Réglement (3:43)
A Noeud Coulant (2:23)
Réglement (3:43)
Voyage Au Bout De La Nuit: La Guerre (21:16)
Voyage Au Bout De La Nuit: La Mère Henrouille (13:10)
France Culture - UNE VIE, UNE OEUVRE, Louis-Ferdinand Céline (1988) avec Frédéric Vitoux (85 min)
Louis-Ferdinand Céline - Frédéric Vitoux - Louis-Ferdinand Céline sur Radio France et Arte (1988-2005-2007)