sábado, 23 de novembro de 2013

Resumo de "Voyage au bout de la nuit" para a editora Gallimard

(Antes desta publicação, Céline tentou vender o manuscrito de "Voyage au bout de la nuit" para um casal de editores. Ele escreveu o seguinte resumo do livro para a prestigiada editora Gallimard, mas antes que eles pudessem concordar em publicá-lo ele já havia aceitado a oferta de Denoël et Steele).

Para NRF, pouco antes de 14 abril de 1932

Monsieur:
 

Envio o meu manuscrito "Voyage au bout de la nuit" (cinco anos de trabalho).

Eu ficaria particularmente grato se você me respondesse o mais rápido possível se afinal quer publicá-lo e em quais condições.


Você me pediu para lhe fornecer um resumo deste livro. Na verdade, é uma tarefa bizarra que você me pede para realizar e eu nunca teria pensado nisso. Pode-se dizer que estava na hora e que eu fiz. Eu não sei por que, mas não me sinto capaz de. (Um pouco como os mergulhadores que vemos em filmes que espirram água para fora após emergir...) Tentarei fazê-lo mas sem ser extravagante. Não acho que o meu resumo lhe fará querer ler o livro.

Na verdade, esta "Viagem ao fim da Noite" é um conto romanceado escrito de uma forma singular, do qual não há muitos exemplos na literatura em geral. Esta não era a maneira que eu queria. Mas é assim que vai. É um tipo de literatura, sinfonia emocional mais do que um romance real. A armadilha do gênero é o tédio. Eu não acho que a minha coisa seja o tédio. Do ponto de vista emocional este conto é parecido com o que temos - ou deveríamos ter - na música. Ele permanece na borda de emoções e palavras, de representações precisas, exceto nos momentos acentuados, que são impiedosamente precisos.

A partir do qual flui uma série de desvios que, pouco a pouco, juntam-se com o tema e  finalmente cantam como numa composição musical. Tudo isso é muito pretensioso e pior do que ridículo, se o trabalho falhou em seu propósito. Deixo isso para você julgar. De minha parte, é um sucesso. Esta é a maneira que eu vejo as pessoas e as coisas. Pior para eles...

A intriga é ao mesmo tempo complexa e simples. Também pertence ao gênero lírico. (Esta não é uma recomendação!) É um grande afresco de lirismo populista, do comunismo com a alma, e assim travesso, cheio de vida. 

O conto começa na Place Clichy, no início da guerra e termina 15 anos depois, no festival Clichy. 700 páginas de viagens ao redor do mundo, homens e a noite, e amor, especialmente o amor, que eu caço, ruína, e que sai desta cansado, deflacionado, derrotado ... Crime, delírio, Dostoevskyismo: há algo de tudo na minha coisa, para aprender e se divertir com. 

Os Fatos 

Robinson, meu amigo, algum tipo de trabalhodor, vai para a guerra (eu penso a guerra em seu lugar [1]), ele foge de batalhas de uma forma ou de outra ... ele vai para a África tropical ... então a América ... descrições ... descrições ... sensações ... em todos os lugares e sempre ele está doente à vontade (romantismo, o mal do século XXI [2]).
 Confuso, ele retorna para a França ... ele vai com a viagem, sendo explorado por onde passa e com o morrer de inibições e de fome. Ele é um proletário moderno. Ele vai decidir matar uma mulher idosa para que ele possa finalmente ter uma pequena quantidade de capital, isto é, o ponto de partida da liberdade. Ele não consegue matá-la, a velha senhora, na primeira vez.

Ele fere a si mesmo. Ele temporariamente cega a si mesmo. Uma vez que a família da velha senhora estava em conluio com ele, todos eles são enviados para o sul da França, a fim de abafar o caso. É a velha senhora que agora cuida dele. No sul, eles se envolvem numa estranha forma de comércio. Eles exibem múmias em uma adega (isto dá dinheiro).
Robinson volta a enxergar. Ele fica noivo de uma jovem de Toulouse. Ele vai cair na vida normal. Mas, para que a vida seja normal, você tem que ter algum capital. E assim ele novamente tem a ideia de derrubar a velha. E desta vez ele não falha. Ela é boa morta. Ele e sua futura esposa irão herdar. Felicidade burguesa é esperada. Mas algo o impede de se estabelecer numa felicidade burguesa, no amor e na segurança material. Algo! Ah! Ah! E isso é algo que toda a novela! Atenção! Ele foge de sua noiva e da felicidade. Ela o persegue. Ela faz uma cena após outra. Cenas de ciúmes. Ela é a mulher eterna que enfrenta o novo homem ... Ela o mata.

Tudo isso é perfeitamente apresentado. Sob nenhuma condição quero que este assunto seja roubado de mim. Isto é alimento para um século de literatura. É o Prix Goncourt - 1932, em uma poltrona para o editor feliz, que vai agarrar essa obra inigualável [3], este momento capital da natureza humana ...

Com os meus melhores cumprimentos

Louis Destouches

[1] No manuscrito original os personagens de Robinson e Bardamu foram invertidos.

[2] Typo do século XX.

[3] O romance fracassou no prêmio Goncourt.

(traduzido por Mitch Abidor (Francês ao Inglês)


Fonte: http://chiseler.org/post/63315115433/celine-on-journey-to-the-end-of-the-night
 
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pessoas idolatram a Merda

Pessoas sempre idolatraram a merda, seja na música, na pintura, na escrita, na guerra, ou no palco. Impostura é a Deusa da Multidão. Se eu tivesse nascido um ditador (que Deus me perdoe) algumas coisas interessantes aconteceriam. Eu sei o que as pessoas precisam, e não é uma revolução, não são dez revoluções... O que precisam é que forcemos água e silêncio neles! Deixem todos vomitarem o tanto de álcool que beberam desde 1793 e os discursos que eles engoliram...Como se eles fossem irremediáveis! Eles estão cheios de Imundície Maçônica e Vinho, suas entranhas estão em tal estado de Jewification e cirrose que caem aos pedaços pelas casas judias na primeira erupção de um alto-falante.

Durante minha ditadura eu serei uma dor na bunda da burguesia nativa, eu lhes ensinarei boas maneiras, tanto é que lamentarão a Comuna, os Judeus, os Incas, os Hunos, e os suicídio de bestas selvagens. Mas a nossa Burguesia é o passado! Eles dizem quase nada... Eles lançaram as bases para os Judeus, que na insegurança aniquilatória, cagam-se de medo. Eles não têm uma ideia de qual caminho percorrer, eles estão com tanta pressa para trair, para barganhar, que temem não trair o suficiente.
Eles se pintam como abissínios, eles viram as narinas de dentro para fora para que os kikes coloque-os de volta onde eles estavam, ficam com eles só mais um pouquinho, pois não irão privá-los de suas mansões sob a nova ordem. Eles nasceram na traição e lá morrerão, no fracasso e na negociação...  Eu sempre me perguntei o que há de mais nojento, uma judeu achatado e caído ou uma burguesia francesa em pé... o que é mais revoltante? Eu realmente não posso decidir.

De “Bagatelles pour un massacre”
Translated by Mitch Abidor

http://chiseler.org/post/65042695538/peoples-idolize-shit-louis-ferdinand-celine

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Élie Faure - L.F. Céline: 1934

Fonte: Choix de Lettres de Louis-Ferdinand Céline, edited by Henri Godard and Jean-Paul Louis. Paris, Bibliotheque de la Pléaide, 2009;
Traduzido desde: marxists.org by Mitchell Abidor;
CopyLeft: Creative Commons (Attribute & ShareAlike) marxists.org 2012.

(Após os tumultos fascistas de 06 de fevereiro de 1934, o romancista Louis-Ferdinand Céline foi convocado pelo historiador de arte Élie Faure para denunciar a ameaça da direita vigente da época. Ele enviou para Faure duas respostas ao seu pedido.)



Nature morte aux homards, Eugène Delacroix, 1827. Musée du Louvre. "Beau comme la rencontre fortuite sur une table de dissection d'une machine à coudre et d'un parapluie!" Lautréamont, chant VI de Les Chants de Maldoror (a associação é de Aragon) 

Março 18, 1934
Caro Amigo:

Você sabe o quanto eu o admiro, como entusiasta que sou, como venero tudo o que você tem pensado, nos dado, e escrito. Leio atentamente e aprendo muito com os seus textos. Ainda leio e sempre lerei. Você é um dos meus professores raros, e, sem dúvida, o mais próximo, o mais direto. Não será esta a questão quando eu me rebelar contra as suas diretrizes atuais.
Eu simplesmente me recuso a ficar em um lado ou em outro. Eu sou um anarquista até a ponta dos meus dedos. Sempre fui um e nunca vou ser outra coisa.
Todo mundo tende cuspir em mim, desde Izvestia até os nazistas oficiais, M. de Regnier, Comodia, Stavisky, o presidente Dullin, todos eles, quase nos mesmos termos exatos declararam-me inaceitável, inqualificável. Eu não provoquei isso com propósito, mas é um fato.
Estou bem com isso, porque é de meu direito. Todo sistema político é uma empresa do narcisismo hipócrita, que consiste em projetar a ignomínia pessoal de seus seguidores em um sistema ou sobre "outros".
 Eu admito que vivo muito bem: eu proclamo em voz alta, emocional e fortemente todas as repugnâncias do homem-comum nojento, à direita e à esquerda. Eu nunca vou ser perdoado por isso. Desde a morte dos sacerdotes o mundo nada mais é que a demagogia, a merda está constantemente sendo lisonjeada, e a responsabilidade é rejeitada através do artifício ideológico e verbal.

Não há mais arrependimento, não há nada além de gritos de revolta e esperança. Mas esperar o quê? Essa merda vai começar a cheirar bem?

Meu caro amigo, eu não traí ninguém e não peço nada de ninguém. Talvez serei executado.

Lenin e Napoleão falharam em seus propósitos. Eles usaram cetros aquecidos e gritaram que uma cura havia sido efetuada. Nonsense. Todo esse cinismo revolucionário (não o seu) não é nada além de vulgaridade, egoísmo eterno armado com novos subterfúgios.
 Se isto se definir como o comunismo, então você vai realmente ver alguma coisa. Algo mais sórdido do que as coisas anteriores. Conheço-os bem, os apóstolos e os heróis, à direita e à esquerda. Eu vivi com eles dia e noite, durante trinta anos. Revolução. Imediatamente. Mas antes, eles próprios. Não essas almas preguiçosas e espíritos, cocktail ou aperitivo de Picon. Por que escolher?

LFC

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Abril, 1934
Caro Amigo:

Eu sempre fui um anarquista: nunca votei e nunca vou votar em nada nem ninguém. Eu não acredito no homem. Por que você quer que eu comece de repente a usar o megaphone só porque doze dúzias de falhas gritam em torno de mim - sou eu que tocarei o piano de cauda tão bem? Por quê? 
Para que eu possa estar à altura destes covardes, constipados, invejosos, bastardos cheios de ódio? Isso é realmente uma piada. Eu não tenho nada em comum com esses castrados que gritam suas suposições desajeitadas e acabam por não entender nada. 
Você se vê pensando e trabalhando sob a autoridade do super-imbecil Aragon , por exemplo? Esse é o futuro? Todos querem que eu bajule Aragon? Ptooey! Se todos fossem menos preguiçosos, se fossem de tão boa vontade como eles próprios dizem que são -  fariam o que eu fiz ao invés de incomodar a todos com suas notas erradas. 
Eles estão empurrando a revolução ainda mais para o futuro, em vez de trazê-la à tona. Assemelham-se a esses homens que já não têm quaisquer instintos, que ferem as mulheres e nunca as atraem. Você não sente, meu amigo, a hipocrisia, a Tartufferie indizível de todos estes slogans de ventríloquo? 
O complexo de inferioridade de todos esses líderes é palpável. Seu ódio de tudo o que os supera, de tudo o que não entendem, pode ser visto claramente. Eles são tão ávidos para depreciar, para destruir, para sujar, para podar o próprio princípio da vida como o pior padre da Idade Média. Talvez um ou outro deles me executará. 
Os nazistas me odeiam tanto quanto os socialistas e os comunistas, para não mencionar Henri de Regnier e Comodia e Stavisky. Eles estão todos de acordo quando o caso é odiar-me. Tudo é permitido, exceto o homem que duvida. Então não é permitido se divertir. Eu sou a prova disso. Mas vou cagar em todos eles.

Carinhosamento, o seu:
L-F Céline.

(Nas margens: Não peço nada de ninguém. Os jovens são inconscientes e irão para onde o seu lirismo diz.


http://www.marxists.org/subject/anarchism/celine/1936-anarchist.htm