quinta-feira, 12 de junho de 2014

< ... chansons de Céline...>

... anteriormente traduzidas...


A NŒUD COULANT
I
Vive Katinka la putain
Celle qui n’aime que le matin
A l’aube grise !
Crève le grain
Ni mon cœur fidèle ni les roses
Refrain
Youp ! Profondis !
Yop ! Te Deum !
A la grande vague le petit homme !
Chacun goéland dans sa mâture !
A nœud coulant !
Brave figure !
II
Quand Katinka sera bossue
Nous irons voir aux citadelles
A force de prêter son cul
La cloche trois fois gros comme elle
III
Celle qu’on branle chaque matin
Pour fair’ lever tous les putains
Grosse bataille petit butin
Depuis l’Irlande aux Dardanelles !
Dernier Refrain
Youp ! Profondis !
Yop ! Te Deum !
A la grande vague petit homme !
Chacun goéland dans sa mâture !
A nœud coulant !
Pâle figure !
——–
RÈGLEMENT
I
Je te trouverai charogne !
Un vilain soir !
Je te ferai dans les mires !
Deux grands trous noirs !
Ton âme de vache dans la trans’pe
Prendra du champ !
Tu verras voir comment que l’on danse !
Au grand cimetière des Bons Enfants !
Refrain
Mais voici tante Hortense [1]
Et son petit Léo !
Voici Clémentine
Et le vaillant Toto !
Faut-il dire à ces potes
Que la fête est finie ?
Au diable ta sorte ?
Carre ! Dauffe ! M’importe,
O malfrat ! tes crosses
Que le vent t’emporte !
Feuilles mortes et soucis !
II
Depuis des mayes que tu râles
Que t’es cocu !
Que je suis ton voyou responsable
Que t’en peux plus !
Va pas louper l’occase unique
De respirer !
Viens voir avec moi si ça te pique
Aux grandes osselettes de Saint-Mandé, (bis)
III
C’est pas des nouvelles que t’en croques
Que t’es pourri !
Que les bonnes manies te suffoquent
Par ta Mélie !
C’est comme ça qu’est tombé Mimile
Dans le grand panier !
Tu vas voir ce joli coup de fil
Que j’vais t’ourdir dans l’araignée !
IV
Mais la question qui me tracasse
En te regardant !
Est-ce que tu seras plus dégueulasse
Mort que vivant !
Si tu vas repousser la vermine
Plus d’enterrement !
Si tu restes en rade sur la quille
J’aurai des crosses avec Mimile
Au trou cimetière des Bons Enfants !

O Soldado de cavalaria provisto de armaduras [trecho de "Conversações com o Professor Y.]

28 de setembro de 1912, Louis-Ferdinand Destouches se alista por três anos no 12º Batalhão de Encouraçados, nas investidas de Rambouillet, onde é incorporado no dia 3 de outubro (cf. núm. 13 deste diário). Por ter levado a cabo uma missão de reconhecimento arriscada no setor de Ypres (Flandres Ocidental), no curso da qual foi ferido com gravidade no braço direito e sofreu ferimentos na cabeça que lhe deixaram um tinnitus recorrente, foi condecorado com a Medalha militar, e posteriormente com a Cruz de guerra. Foi declarado inválido de guerra e enviado para Londres.
Podemos encerrar de novembro a dezembro de 1913 (cf. 3 y 47) a redação deste diário íntimo.
   
Não saberei dizer o que me incita a escrever o que penso.
Para quem lerei estas páginas.
A noite triste de novembro me leva treze meses atrás, antes de minha chegada a Rambouillet, quando estava muito longe de pensar o que me aguardava nesta encantadora estância. Mudei muito em um ano, creio... Porque a vida de quartel ao invés de fundir-me em... (?) (raiva... tristeza... angústia) um estado que não saía ao golpe do espírito abarrotado de resoluções, lástimas, nunca realizáveis, enquanto ainda inteiramente imerso à vida triste que levamos, me sinto abrigado de uma melancolia na qual me desenvolvo como o pássaro no ar ou o peixe na água. 
Tampouco e em nenhuma matéria tenho dado provas de erudição.
Estas notas, como pode-se ver, têm uma palidez diáfana, são puramente pessoais e tem como objetivo marcar em minha vida uma época (talvez plena), a primeira verdadeiramente penosa que atravesso, mas talvez não a última. É ao azar dos dias que carrego estas páginas de escrita. Estarão expressas e cheias de um estado de espirito diferente segundo os dias ou as horas, já que desde minha incorporação sofri bruscas mudanças físicas e morais.  

 3 de outubro - chegada. Corpo de guarda repleto de suboficiais de aspecto amassado. Cabos disparatados. Incorporação de um pelotão no 4º Lt. Le Moyne, bom moço; Coujon (?), mal, falso como um judas.
O Barão de Lagrange (oficial sincero e bom, mas atacado moralmente por certo nervosismo e sujeito a ataques cuja procedência, creio, devem ser consequência do excessivo libido de sua juventude).
Rodeado deste estranho estado maior, dou meus primeiros passos na vida militar. Sem esquecer Servat, um cabo sujo e estilhaçado... falso e bruto, unindo à patacoada e desembaraço meridionais.
Astúcia e um vil egoísmo. Nada mais é delicado, e quantas vezes confundi meus desgostos particulares com os dele ou com aqueles que criei para evitá-los.
Desde as dívidas até os roubos que eu tratava de ignorar, e, acrescentado a isso, uma profunda nostalgia da liberdade... em estado pouco propício a facilitar a instrução militar. 
Horríveis despertares (angustiosos) (que) ao som tão dissimuladamente alegre da trompeta do Guarda apresentam ao espirito os rancores e o horrores de sua jornada. As inspeções aos estábulos na névoa matutina. A (corrida) sarabandeada de ecos pela escada, o serviço de quadra na penumbra. Que nobre ofício, o das armas... enfim.
 ¿Os verdadeiros sacrifícios consistem talvez na manipulação do esterco à luz amarelada de uma lanterna gordurosa?
Aos cursos dos alunos brigadieres  que caíam gordos a um jovem Oficial fogoso em conflito com os sarcasmos de seu suboficial embrutecido com medo inato do cavalo... velhos ossos e seriamente comecei a pensar na deserção, única escapatória à esse cavaleiro. Quantas vezes regressei das curas e só em minha cama, coberto por imensa desesperação, chorei ao pesar de meus dezessete anos, como uma menina de primeira comunhão. Então soube que estava vazio, que minha energia era uma foça e que ao fundo de mim mesmo nada havia que não pudesse ser um homem; durante muito tempo acreditei nisto; talvez muitos como eu, antes do tempo; talvez muitos acreditam ainda mesmo que estejam velhos, e nas mesmas circunstâncias sentiriam também seus corações partir à deriva como uma garrafa no mar, esganzarado por ondas: as injúrias e a incerteza de que aquilo nunca irá terminar; então sim, verdadeiramente sofri tanto de meu mal presente como de minha inferioridade viril e do feito de comprová-la. Me dei conta de que os grandes discursos que lançava um mês antes sobre a energia juvenil em que alardeava valentia sem ao menos tê-la e que a hora da verdade não era mais que um infeliz derraigado que havia perdido a metade de suas capacidades e que não utilizava as  as que ainda restam a demonstrar o nada dessa energia
É então o fundo dum abismo quando posso dedicar-me a certos estudos sobre mim e minha alma, que não posso torná-la crua creio a fundo quando está em luta consigo mesmo.  Nas catástrofes são vistos os homens do grande mundo atropelar mulheres e a envilecer-se como o último dos vagabundos. Assim de golpe vi minha alma despojar-se da ilusão, do estoicismo com que minha convicção a havia encoberto para não contradizê-la mais (que seu pobre em luta com a triste realidade pela qual eu [...]).  
O que há de triste no mundo após um tarde de dezembro, um domingo, em um quartel? E, mesmo por estas vias, esta tristeza que me funda em profunda melancolia me custa largar... e parece que minha alma está rebrandecida e que somente em tais circunstâncias me vejo como realmente sou.

 Um fundo de tristeza vem do fundo de mim mesmo, e se não tenho o valor de afugentá-lo com uma ocupação qualquer, adquire em seguida grandes proporções, até o ponto que essa profunda melancolia chega a cobrir todas minhas penas e se junta com elas para torturar-me em meu interior.
Sou complexo e sensitivo de sentimentos; a menor falta de tato ou de delicadeza me fere e me faz sofrer porque dentro de mim escondo um fundo de orgulho que me repugna; quero dominar por meio de um poder fático como a ascendência militar, senão que desejo mais tarde ou antes possível ser um homem completo; serei um dia, terei a fortuna necessária para gozar essa liberdade de ação que permite impor-se.
Devo obter por meus próprios meios uma situação econômica que me permita qualquer fantasia (lástima), estarei livre e só, pois creio ter o coração demasiado complicado para encontrar uma companheira a quem amar por muitos anos. Não sei. Mas o que quero antes de tudo é viver uma vida cheia de incidentes que espero... a providência quererá colocar em meu caminho e não acabar com apenas um polo de continuidade amorfo sobre uma terra e numa vida cujas voltas desconheciam, que os permita forjar-los uma educação moral; se atravesso as grandes crises que a vida me reserva, talvez serei menos infeliz que outro, já que desejo conhecer e saber; em uma palavra, sou orgulhoso; é um defeito? não creio... e me criará dissabores ou talvez o êxito.

domingo, 8 de junho de 2014

< ...Você desprezível-rato informante-covarde!... >

Para Droit de Vivre [1]


20 de fevereiro [1948]

Sr.:

Militante da resistência? De fato e ao contrário de você, desprezível rato informante covarde! 20 de Nov. de 1914 - declarado inválido, ex-soldado,  - 75% - voluntariamente alistado, não na polícia ratfink [2] mas nos Cuirassiers [3] contratado novamente na Marinha em '39! E apesar de tudo isso, carcereiros!

Outra coisa... onde você leu, merda, uma única linha da minha exigência do "assassinato em massa dos judeus"?? Repugnante! Pedi os Judeus, alguns Judeus, não pedi para empurrá-los num massacre, em uma catástrofe, para o matadouro! Isso é completamente diferente, EXATAMENTE O CONTRÁRIO, e você sabe disso. É você que empurra, que sempre empurrou os judeus, seus irmãos, no matadouro através de suas provocações, os criminosos estão entre vocês, os traidores estão entre vocês.

E você sabe disso muito bem - na sua histeria - em suas mentiras - em seu ciúme. 

L.F Céline 

[1] A revista Droit Vivre tinha publicado um artigo hostil intitulado "Celine:. O Incompreendido"

[2] (Informantes, espiões, caguetas), a casta mais baixa da polícia mais nojenta.

[3] Antigos soldados de cavalaria armados de couraça.

Tradução da tradução de Mitchell Abidor

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Carta para seus pais desde a trincheira

[Céline se alistou no exército em 1912 e em 1914, com a eclosão da guerra, - foi ferido na Flandres, no dia 27 de outubro de 1914]

[Recebido em 26 de outubro de 1914]

Queridos pais,

Já passaram alguns dias desde que tive alguma chance de escrever, uma vez que os alemães fizeram coisas  pesadas, realmente, contra nós e foi somente ao preço de combate árduo, às vezes a pé, às vezes a cavalo, de que fomos capazes, metro a metro, a ganhar terreno repleto de valas grandes e profundas onde os alemães se escondem e se conduzem a partir de canhões. Mas logo foram obrigados a recuar e ontem com muita dificuldade ganhamos vinte quilômetros.

Nesta enorme concentração de cavalarias, depois de 80 dias de campanha você vê as coisas mais estranhas, regimentos inteiros que tiveram que lutar nos pântanos de Lorreine estão vestidos em trajes civis, porque seu equipamento original teve que ser deixado para trás.

Ao todo, poucos grandes encargos, mas, em geral, uma guerra de emboscadas onde a metralhadora causa danos terríveis, também tremendas noites e ataques durante o dia, a fim de chegar a um flanco ou outro de um exército. Há regimentos que particularmente sofreram, como o 28º Dragões de Sedan, onde apenas um comandante e quatro oficiais permanecem. A 20 ª Chasseurs de Vendôme de nossa divisão - que teve de atacar as ruas de Lille - mal pode montar três pelotões de quatro esquadrões.

Há também divisões de Territoriais que chegaram neste rincão de operações onde você pode ver todos os tipos de exércitos, do belga ao Inglês, juntamente com o Exército indiano, que é composto por um corpo de 5.000 anões de um vilarejo no Himalaia, exército especialmente reservado para ataques noturnos e que só luta com facas... Não é preciso dizer que eles não fazem prisioneiros. Nós nunca os vemos, pois à noite eles dormem nas árvores e você pode passar por baixo desse regimento de pigmeus horríveis, sem percebê-los.

Acho que os alemães podem preparar a paz, o embaralho do entulho é iminente. Eu espero que sejamos exigentes e que depois de todo esse sangue derramado... vamos parar de brincar como cavalheiros: este é um papel que os alemães não entendem e aqueles que estão indo negociar antes deveriam ir ver o espetáculo que vimos no dia antes de ontem em Lafosse, onde uma família de catorze pessoas, civis indefesos, foram mortos com lanças, dos quais o mais velho tinha setenta e oito anos e o mais jovem, duas semanas ... Sem contar a mulher grávida cujo ventre foi cortado por uma soldado.

No entanto, desde que estivemos no norte aprendemos coisas surpreendentes sobre o início da campanha, o que mostra que temos muita sorte e que "Deutschland über alles" não é apenas mais uma frase vaga. De qualquer forma, o perigo tem sido evitado - e agora, em marcha!

[Na margem, sem ponto de inserção: me foi dito por fontes confiáveis ​​que a temporada em Ostende terminou prematuramente.

Recebi os artigos e as meias; infelizmente nossos sapatos possuem mais água do que as planícies da Holanda.]

Traduzido desde Mitchell Abidor

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Un nouveau voyage avec Céline : le manuscrit original de Voyage au bout de la nuit

Os "Santos Padres" editará o que será, sem dúvida, evento editorial do ano: a publicação do manuscrito original de Viagem ao fim da noite.



Un manuscrit qui a une histoire devenue presque mythique. Vendu par Céline en 1943 au marchand d'art parisien Etienne Bignon, il va disparaître pendant soixante ans. C'est seulement en 2001 que le célèbre libraire Pierre Berès fera ressortir, dans un voile de mystère, (le volume aurait été conservé par un collectionneur anglais) « l'ours» de Céline.

Acheté à l'écrivain 10 000 francs avec un petit tableau de Renoir, il atteindra le chiffre record de 12 millions de francs lors de la vente aux enchères du 15 mai 2001. C'est la Bibliothèque Nationale de France, en faisant jouer son droit de préemption, qui permettra au chef-d'oeuvre littéraire de revenir dans le giron national.

La version que propose l'éditeur est la première version manuscrite du roman de Céline, avant les dernières corrections apportées sur une version dactylographiée. Cette reproduction du manuscrit restauré est donc bien différente de la version publiée chez Denoël en 1932 : des mots ont été changés, des phrases modifiées, des chapitres entiers remodelés, le syle a évolué, Céline «abandonnant les conjonctions, privilégiant les juxtapositions », analyse Henri Godard. « Il a injecté les tics de l'oralité dans l'écrit » pour passer « en quelques mois du bon écrivain à l'écrivain de génie ». C'est en quelque sorte un nouveau voyage à accomplir à travers ces quelques mille pages fidèlement reproduites...

Jessica Nelson, des éditions des Saints-Pères, tient à préciser que le volume « n'est pas un fac-similé » mais que chaque feuillet a été numérisé puis restauré «comme un tableau, afin que le lecteur ait l'impression, en ouvrant le livre, que Céline vient tout juste d'écrire ces pages ». Si ce travail s'est révélé très couteux pour l'éditeur, le résultat pour le lecteur est fascinant : vous y découvrirez l'écriture (lisible) de Céline à l'encre noire sur le fond blanc de feuilles vierges ou parfois à en-tête de sanatorium ou d'association d'assistance aux « tout petits », l'évolution de cette écriture plus ou moins relâchée, ses ratures, ses reprises et corrections, ses numérotations aux crayons bleus ou rouges...

Le tirage annoncé est très restreint : 1 000 exemplaires numérotés d'une numérisation présentée dans un luxueux et imposant coffret (25x35cm), rapidement augmenté d'un second tirage lui aussi limité à 1 000 exemplaires imposé à l'éditeur par le succès rencontré avant même la sortie officielle du 2 juin. Un très bel objet bibliophilique qui sera très probablement vite épuisé et saura attirer collectionneurs et spéculateurs avertis... 

M.G.
Le Petit Célinien, 3 juin 2014 


VOYAGE AU BOUT DE LA NUIT
Manuscrit 
Editions des Saints Pères, 2014
1040 pages, 4 kg, format 25 cm x 35 cm x 7 cm
ISBN : 978-2-9542687-4-3
Prix : 249 € sur