sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Perdigotos

Em Céline, o seg­redo íntimo de cada ser está nessa humi­dade vis­cosa e ago­ni­ada, nessa baba intestina, nessa espuma avil­tante das tri­pas e mucosas — o nuclear é o excre­men­cial (…) O uni­verso de Céline é um inferno vis­ceral. — É aqui que eu entendo mel­hor a repugnân­cia lim­i­nar que me sus­cita uma escrita que é feita de ron­cos, perdig­o­tos e metá­foras vis­cosas.



"O judeu não explica tudo, mas ele catalisa toda nossa decadência, toda nossa servidão… Ele só se explica – seu poder fantástico, sua tirania assustadora, pelo seu ocultismo diabólico… O judeu não é tudo, mas ele é o Diabo e isto é o bastante – o Diabo não cria todos os vícios, mas ele é capaz de engendrar um mundo inteiramente, totalmente vicioso… Deus sabe como o branco está podre!… Mas o judeu soube ganhar esta podridão em seu favor, explorá-la, exaltá-la, catalisá-la, estandardizá-la como ninguém. Racismo! Racismo! Racismo! Todo o resto é imbecil – falo enquanto médico. Equidade? Justiça? Que casuísticas doentes e desastrosas – Elas contarão sempre contra nós! Esta é a regra do jogo. Desorganizados contra ferozmente organizados – Larvas contra formigas – Liberais contra racistas! Você não tem mais o instinto da perfeição física, do lirismo estético branco – Todo o “que” da coisa – Os livros o mataram – o sentido da vida branca – E, no entanto, você sabe como os judeus com o cinema apresentam esta terrível eliminação…"

Escolhi-a (Lucette Almanzor) para que recolhesse minha alma depois de minha morte


"É preciso recomeçar tudo da infância, pela infância, para todas as crianças… O desejo que toda a família seja bela, sã, vivaz, ariana, pura, redentora, resplandecente de beleza, de força, não somente sua pequena família, seus dois, três, quatro fedelhos, mas toda a família francesa, o judeu pelos ares, bem entendido, virado para suas Palestinas, ao Diabo, na lua."

“Fiquei surpreso e um pouco doído ao ver que nem Bagatelles nem L’École figuravam na livraria, enquanto se favorece a um enxame de peixes pequenos, abortos laçados à ultima hora, cabelos na sopa”

“Para recriar a França, seria preciso reconstruí-la inteiramente sobre bases racistas comunitárias. Nós nos afastamos todos os dias deste ideal, deste fantástico projeto (…). Os gauleses (…) estão amarrados ao cú dos judeus”

“Tenho constantemente a morte a meu lado”, e dizendo isso ele parece apontar o dedo para um cãozinho que estivesse deitado ao lado de sua poltrona.

“Se os bolcheviques estivessem em Paris eles fariam vocês verem como se lida com isso; eles mostrariam a vocês como se depura a população, quarteirão por quarteirão, casa por casa. Se eu carregasse a baioneta, eu saberia o que fazer.”

“O inimigo ocupa todos os postos, todas as trincheiras, todos os desfiles – todas as inteligências… Todos os bancos… Estamos a descoberto, sob suspeita, pouco numerosos, divididos, amanhã talvez desarmados…”

“Curioso ver como seres capazes de exigir de sangue frio a cabeça de milhões de homens se inquietam com sua vidinha suja”



“o artigo 75 no cú… Esse deus de pacotilha me gela o saco. Vacilo… Me acovardo… me confundo… não digo tudo… Ah! ah! Nem de longe”  

“Absolutamente nada, nada. Só tenho uma vontade, dormir e não ser chateado.”


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

semissanguessugas

Ao ler o Portrait d’un antisémite, de Jean-Paul Sartre, Céline viu-se tomado pela fúria e jurou “dar cabo desse aborto" do Sartre. Chamou o filósofo de “enfermidade epileptóide e porcaria”, que estaria “a precisar de um pontapé no rabo, de uma bordoada”. Gostaria de “partir-lhe o focinho, de o deixar sem ponta por onde se lhe pegasse”. Quis publicar sua resposta, A l’agité du bocal, que constitui, do começo ao fim, uma enfiada obscena de palavrões. Céline começa chamando o filósofo de Jean-Baptiste Sartre, tratando-o de parasita que se alojou em seu ânus (Céline parece fixado na fase sádico-anal) e abusando de metáforas escatológicas:
"Agarrados ao cú… cagarolas, semissanguessugas, semitênias… verme retal, embrião… o merdas… olho do cú infecto!… merdoso, empanturrado de merda, sais do rego do cú… Ânus de Caim, cestóides!… No meu cú, que é onde ele está… crosta de meu cú genial… escuridão do meu ânus… A merda seca do meu cú… olhos de feto… Tênia… Embrião… Tênia dos cagalhões, falso girino… Tênia trocista e filosófica… Monstro saído das merdas…"
Jean Paulhan recusou publicar esse panfleto estúpido, ordinário, que acabou saindo numa edição quase clandestina, numa tiragem de 200 exemplares, patrocinada pelos adoradores de Céline. Mais tarde, em D’un château à l’autre, Céline dedicou a Sartre mais algumas linhas de ódio: “Agente Tartre! Criptógrafo de merda! Especulador piolhento!”.

sábado, 7 de setembro de 2013

Quando o Mundo Transformar sua Alma eu Mudarei meu Estilo

Querido Mestre,

Os críticos de uma forma geral estão mostrando a prova de uma parcialidade nojenta em relação ao meu novo livro. Eles pretendem me fazer pagar caro pelo sucesso de Viagem (conseguido em grande parte graças a vocês). Eles tentarão de tudo para me fazer passar por conspirador, palhaço, excêntrico lunático e por ultimo, não menos importante, e muitos mais a sério, um tedioso!... Nada está faltando! Eles nem ao menos me leram. O ataque é completo! A intenção é deliberadamente me insultar, tanto quanto possível. Sem qualquer princípio moral ou integridade artística.

Claro que tudo isto é típico. Não importa qual arte, a taxa de formas fracassadas tem a proporção de 999 para 1000, os sucessos que permanecem provocam a revolução, um dilúvio de ódio. Muito bem. No entanto, me entristeceria enormemente se essa onda biliosa o impedisse de, ao menos, me ler. Eu sinceramente me dediquei a este trabalho, ardorosamente, uma grande oferta como a questão dos fatos.
Eu passei os últimos quatro anos nisto, dia e noite, além do meu miserável trabalho na clínica (1.500 francos por mês). Eu não sou rico, tenho uma filha e uma mãe para cuidar. Viagem me trouxe uma renda mensal de 1.200 francos por mês. Eu menciono essas somas porque elas explicam como as coisas estão no presente. Por Morte à Crédito eu literalmente trabalhei para a morte. Fiz meu melhor. Se aqueles que se permitem de uma forma tão covarde, com a impunidade de me envergonhar, possuíssem um décimo de minha integridade e aplicação, o mundo se tornaria um antro edênico e eu admito que minha literatura se mostraria injustificável. Este não é o caso. Há também o ressentimento, orgulhosamente sentido, acredito eu, contra minha quebra do estilo acadêmico sagrado tradicional. Eu escrevo uma espécie de fala, prosa transposta. Este estilo tem suas regras e leis, igualmente terríveis, como você bem sabe. Deixe que os outros tentem. Eles verão. Eu sucumbi o trabalho depois de mim, mas isso existe. Outra coisa, eu sou censurado por não ser Latino, clássico, meridional (características bem definidas... elegância, temperança... graça... etc.). Sou muito capaz de apreciar as diversas belezas de gênero, porém eu sou totalmente incapaz de me submeter a eles... Não sou Meridional. Sou parisiense, Bretão, e de ascendência flamenga. Escrevo como sinto. Sou censurado por ser sujo, por falar cruelmente. Se esse é o caso, então Rabelais, Villon, Brughel e tantos outros, deveriam ser acusados. Nem tudo vem da Renascença. Eu sou censurado por ser sistematicamente cruel. Somente quando o mundo mudar sua alma eu mudarei meu estilo. De onde é que subitamente esses puristas saem? Eu não os vejo protestar contra os filmes de gangsters! Contra a Detective Magazine! Contra tanta pornografia que é, em si, indesculpável. Esses puristas também são covardes! Eles não arriscam, especialmente permanecem anônimos, cuspem seu veneno em cima de um escritor solitário, arriscam muito mais contra os formidáveis interesses do Cinema ou de Hachette. Eles são os lambe-pé ou defensores ferozes da moral, dependendo do tamanho de sua tarefa.

Seguramente, eu nunca fui para a escola. Eu estudei para o meu bacharelado e meu diploma de médico enquanto trabalhava para ganhar a vida. Aprende-se muito desta forma. E parece que não vou ser facilmente perdoado por isso. Após tudo, eu sou um médico de periferia.
Médicos são desprezados, junto com sua experiência. Ao escrever esses tipos de livros, neste estilo que você conhece, eu corro o risco de ser descartado em qualquer lugar, e perder o trabalho. Eu não produzo literatura sedada. 

Finalmente, eu sou censurado por algo que chamam de confusão... Acho que é pouco provável o contrário. Eu escrevo na fórmula dos sonhos acordados... Ah! quão feliz você me faria se você reservasse um artigo para mim, mas não para me elogiar (este pedido não seria digno), mas para definir claramente, pois só você pode, o que não é e o que o é no meu livro.
      Eu estarei em dívida com você, meu querido amigo. 

 Sinceramente e amigavelmente o seu,




Louis Destouches
(L.-F. Céline)

(1933)