terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Poemas de Céline

Gnomographia

Istambul dorme sob a lua pálida
O Bósforo cintila com mil chamas prateadas
Sozinho na grande cidade Maometana
O velho pregoeiro ainda não dormiu -
Sua voz repercute e é amplificada pelo eco
Anunciando para a cidade que já são 10 horas
Mas através da janela, do alto de seu minarete
Seu olhar inquieto mergulha num quarto
Por um momento permanece, em silêncio, preso pela surpresa
Ele acaricia nervoso a sua grande barba cinza
Mas, fiel ao dever, ele equilibra a voz
E então o eco atônito se  repete três vezes
Para a lua enrubescida, para as estrelas deslumbrantes
Para Istambul - A Branca - em breve será meio-dia.

Ngobonbong, 
Augusto 28, 1916.






O grande Carvalho

Mas já, lentamente, o céu está caindo.
Os raios ocidentais, perseguidos pela noite
Lutam contra a escuridão, e resistem novamente
Velando o recuo do sol que foge
Acima da rocha negra que encobre a floresta
Como o orvalho que ainda mantém a luz decrescente
Enquanto isso, pouco a pouco, a sombra levanta e leva embora
E mergulha, por sua vez, no Todo perturbado
Cada hora de nossa vida traz sua sombra
Afugentando a esperança, que nunca irá retornar
As ilusões perdidas, a amargura crescente
Invade nosso coração, destruindo-o e matando-o -

Bikobimbo,
Augusto 30, 1916.


O Presidente Vincent Auriol

Hey, veja o Presidente
Este é um destino muito trágico
Ele é bem pago, ele vive no Palácio do Presidente
Ele começou sua Carreira numa campanha feroz
Contra a Pena de Morte.
Ele era um Anarquista
E agora ele é Presidente
Nenhum Presidente assinou tantos perdões.
Há fantasmas que rondam o Palácio, lhe asseguro
Arrastando seus postos de Execução
E a retórica do Presidente.
Imaginem acabar assim!
Ele não pode fazer nada sobre isso, é assim que é...
Este é o Destino
Esses são os desafios
Ele é um homem corajoso
Ele deve assinar
Ou morrer.

1949.






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